A mobilidade urbana e seus desafios diários vem sendo debatida entre autoridades e entidades representativas, entre elas a Federação das CDLs de MS, que buscam soluções para esse grande gargalo que tomou conta das cidades, especialmente nas capitais.
A Pesquisa Mobilidade Urbana 2022, conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo SPC Brasil, em parceria com o Sebrae, apontou que os brasileiros que residem nas capitais passam cerca de 2h do seu dia no trânsito para ir a lugares como o trabalho, escola, faculdade ou fazer compras, o que equivale a 21 dias/ano.
Para a presidente da Federação, Inês Santiago, esse é um tema complexo que precisa ser debatido sob pena de prejudicar ainda mais o desenvolvimento das cidades. “A dinâmica das cidades é a grande responsável pela mobilidade urbana, por isso precisamos pensar coletivamente, buscando modificar o que tem trazido problemas e aprimorar o que já dá certo”.
A presidente pontuou ainda que a pesquisa CNDL/SPC trouxe luz a algumas questões enfrentadas pelas pessoas, quando o assunto é trânsito. “Apenas 10% dos entrevistados consideraram o trânsito bom ou ótimo, demonstrando o que todos nós sentimos no dia a dia, quando vamos ao trabalho, quando levamos os filhos na escola, ou mesmo quando vamos aproveitar os momentos de lazer”.
De acordo com a pesquisa, 28% dos entrevistados levam de 30 minutos a 1 hora por dia em trânsito e 32% levam de 1 a 2 horas. O tempo médio despendido no trânsito caiu na comparação com o levantamento de 2017 (147,9 minutos). A queda foi de 19%, ou o equivalente a quase meia hora. A pesquisa de 2022 também investigou o tempo gasto nos engarrafamentos, obtendo uma média de 64,5 minutos, o equivalente a cerca de 1h04 minutos do dia.
A mobilidade urbana afeta a economia
A distância pode ser uma barreira na hora de fazer compras, programas de lazer ou mesmo para algumas oportunidades de trabalho. A pesquisa constatou que, nos últimos 12 meses, 27% deixaram de ir a algum lugar ou foram a pé por falta de dinheiro. Percentual parecido (26%) relata a mesma dificuldade, mas por não ter linha de ônibus, trem ou metrô em um horário específico. Para 22%, o motivo foi a falta de opção de transporte público.
Na opinião da grande maioria (80%), é comum as pessoas deixarem de fazer alguma atividade devido às dificuldades de locomoção. As principais atividades deixadas de lado são, segundo os entrevistados, de lazer (44%), compras (25%) e até mesmo os atendimentos de saúde (23%) e trabalho (23%).
As condições dos transportes afetam a economia no que diz respeito ao consumo e à oferta de trabalho. Para além da opinião, a pesquisa avaliou a experiência dos entrevistados, constatando que 42% dos usuários de transporte público já passaram dificuldade para arrumar emprego devido ao número de conduções necessárias para chegar ao local de trabalho.
61% dos entrevistados utilizam aplicativos com serviços de táxi ou transporte particular, 27% utilizam aplicativos de geolocalização e 25% utilizam aplicativos de ônibus.
A avaliação dos aplicativos de transporte foi majoritariamente positiva em diversos quesitos, mas o campeão foi o conforto, considerado bom ou ótimo por 77%. O tempo de deslocamento (72% de bom ou ótimo), o estado de conservação dos veículos (71%), o atendimento prestado pelos motoristas (69%), e a limpeza (69%) também tiveram boa avaliação. O quesito com maior percentual de avaliação negativa foi o do valor da tarifa, considerado ruim ou péssimo por 20%.
Audiência Pública
Uma audiência pública promovida pela Câmara Municipal de Campo Grande, discutiu a flexibilização dos horários de comércio ou escolas como forma de melhorar a qualidade de vida dos moradores.
Representantes dos setores de transporte coletivo, comércio, transporte por aplicativo, da Prefeitura de Campo Grande e da Secretaria Estadual de Educação opinaram sobre o assunto durante a discussão na Casa de Leis. O objetivo é que a partir do estudo, solicitado para ser realizado em parceria com a Planurb, possam ser propostos projetos de lei que garantam mudanças e flexibilizações para facilitar o deslocamento de todos os motoristas de Campo Grande.
Vários fatores precisam ser discutidos sobre o tema, conforme pontuou o secretário municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio, Adelaido Vila. “Temos uma família que precisa deixar seu filho na escola para ocupar seu posto de trabalho em diferentes setores. Temos hoje uma grande rede que se organiza conforme a necessidade dessa escola. Temos ainda que ouvir profissionais da educação, que precisam fazer várias jornadas, dar aula em várias escolas”, exemplificou.
Adelaido, que também é presidente da CDL Campo Grande e vice-presidente da FCDL MS, citou que 60% da mão de obra está no varejo, no comércio ou serviço e tem certeza que o setor está disposto a contribuir, porém pondera que toda complexidade do tema precisa ser avaliada. Acerca dos comerciantes, ele citou a importância de ter um alvará flexível para poder definir a melhor maneira de trabalhar e definir esse horário do estabelecimento.